quarta-feira, 17 de julho de 2013

Ídolo de Olimpia e Atlético-MG, Cáceres fica em cima do muro


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O coração é preto e branco. Porém, dividido. Lembrado com carinho pelas torcidas de Olimpia e Atlético-MG, Cáceres prefere não ferir os sentimentos de quem o considera um ídolo. Por isso, adotou o "que vença o melhor" na decisão da Taça Libertadores, que começa nesta quarta-feira, no Defensores del Chaco, em Assunção. Atualmente no Guarani-PAR, atual vice-campeão nacional, o zagueiro confirma o forte vínculo com os dois finalistas. Está acompanhando tudo e, como torcedor, de um jeito ou de outro vai colocar a faixa de campeão no peito.

Característica latente da cultura mineira, que ele herdou da época em que morou em Belo Horizonte, onde defendeu o Galo em duas oportunidades (2005 e 2010), o "dedo de prosa" aconteceu na casa de Cáceres. E foi a convite do próprio, insatisfeito com a proibição de registrar imagens num shopping na região nobre de Assunção.

Caceres ex-jogador do Atlético-MG (Foto: Fernando Martins)

No caminho, foi possível perceber o carinho e a idolatria dos paraguaios pelo defensor, que em 2002 foi campeão da Libertadores vestindo exatamente a camisa do Olimpia. Ao reconhecerem o carro do jogador no trânsito, vários motoristas e torcedores buzinaram e gritaram seu nome. Claro, alguns "esqueciam" que Cáceres criou raízes também do outro lado da decisão.

- Vai ser 3 a 0, Julio! E você voltará para jogar o Mundial - brincou um torcedor.

Cáceres respondeu com educação.

- Será? Estou com um amigo brasileiro aqui. Não sei se ele acha a mesma coisa - disse ele, sem sem comprometer e exibindo um largo sorriso.

Caceres Atlético-MG Kleber Palmeiras  (Foto: EFE)

No som do carro, músicas brasileiras tocavam sem parar durante o trajeto. Eram sucessos do grupo Exaltasamba e de Zeca Pagodinho.

- Ganhei esse CD do Wanderson (segurança do Atlético-MG), em 2010. Adoro a música brasileira, que é uma coisa linda. Sempre ouço no carro, quando vou para os treinos, quando tenho saudades do Brasil.

Aos 33 anos e pai de dois filhos, o jogador está com um terceiro a caminho. E foi por conta da gravidez da esposa que Cáceres recusou uma proposta para voltar ao futebol argentino, onde defendeu River Plate e Boca Juniors. O pedido foi do amigo Martín Palermo, ex-companheiro do Boca e atualmente treinador do Godoy Cruz.

- Meu contrato com o Olimpia já havia acabado, mas escolhi ficar em Assunção. Nossos filhos nasceram aqui. O terceiro também nascerá. Ficar perto da família é o mais importante nesse momento.

Varal histórico

Em casa, Cáceres exibiu com orgulho duas camisas: a do Olimpia usada na decisão da Libertadores de 2002, e a do Galo com a qual conquistou o título mineiro de 2010. Duas razões para usar a palavra "família" mais algumas vezes.

- O Olimpia abriu as portas do futebol mundial para mim. É minha primeira família no futebol, foi onde conquistei coisas importantes. É meu clube de infância, tenho muito carinho. Já o Galo me deu a oportunidade de atuar no futebol brasileiro. É minha segunda família, com certeza a minha segunda casa. Infelizmente, não consegui conquistar algo importante para dar alegria àquela torcida maravilhosa. Mas posso imaginar como estão os atleticanos em Minas Gerais, com esta final da Libertadores.

Caceres ex-jogador do Atlético-MG (Foto: Fernando Martins)

Cáceres foi um dos poucos que se salvaram na campanha do Brasileirão 2005, quando o Atlético-MG foi rebaixado para a Segunda Divisão. Ele sabe que agora é outra época, após um trabalho de reconstrução no clube mineiro, e assim acredita que o título da Libertadores é mais do que merecido.

- As coisas mudaram muito no clube. Naquele tempo, o time era bastante imaturo, muitos jogadores foram contratados. Cheguei no meio da temporada. Foi complicado. Hoje, vejo um trabalho de dois anos, com grandes jogadores. O Galo tem feito uma grande campanha, e será justo se conquistar a taça. Justo com o clube e com a torcida.

Saudade de Minas

Do atual elenco atleticano, Cáceres atuou com Réver, Diego Tardelli e Neto Berola em 2010. Ele destaca a chegada de Ronaldinho Gaúcho ao clube, mas prefere valorizar o amigo dono da camisa 9. Chamar o filho mais novo, Thiago, para mostrar a camisa do atacante da "metralhadora".

Caceres ex-jogador do Atlético-MG (Foto: Fernando Martins)

- Ronaldinho é um craque, dispensa comentários. Mas o Thiago tem uma camisa do Tardelli que ele usa muitas vezes para jogar futebol ou ficar em casa - disse, orgulhoso, ao apresentar o filho que joga na escolinha de futebol do Olimpia.

Curiosamente, Thiago vai torcer para o Atlético-MG, já que presenciou no Galo um dos momentos mais marcantes na carreira do pai.

- Quando voltei ao clube em 2010, no aeroporto os torcedores me carregaram nos braços. Meu filho não entendeu e perguntou por que eles agiram daquele jeito. Expliquei que eu sempre fui muito bem tratado em Belo Horizonte, sempre fui muito querido pela torcida. Desde então, ele virou fã do Galo.

Cáceres vai assistir à decisão, mas não declara torcida. Deixa claro que o carinho é igual para os dois clubes. Só de ver as duas equipes na final do principal torneio sul-americano é um prêmio para o seu coração de torcedor.

- É algo inesquecível ter Olimpia e Atlético Mineiro na final da Libertadores. Que vença o melhor, porque para mim estará tudo muito lindo.

Mas se o zagueiro não declara torcida, encontra um tempinho para alertar o clube brasileiro dos perigos que o esperam o Atlético-MG no Defensores del Chaco.

- Todos reconhecem aqui que o Galo tem um time melhor. Mas o Olimpia é uma equipe que se entrega muito em campo. Não joga bonito. Às vezes até joga feio. Mas a vontade de ganhar aqui é grande, e eles esperam fazer uma diferença boa no primeiro jogo para segurar o Atlético em Belo Horizonte.

Para sentir a massa atleticana

Sem previsão para pendurar as chuteiras, Cáceres tem uma certeza para quando deixar de ser jogador: será treinador. Ele fez o curso no início do ano e vislumbra um dia comandar o clube do coração no Brasil.

- Ainda quero voltar a sentir o calor da torcida do Galo. Só tenho coisas boas a falar do clube. Quem sabe um dia não estarei no banco de reservas, ouvindo a torcida gritar meu nome outra vez?

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