quarta-feira, 30 de julho de 2014

R10 muda patamar do Atlético-MG


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O ano de 2011 terminou para o Atlético-MG com um gosto amargo. Apesar de ter conseguido escapar de um segundo rebaixamento para a Série B do Brasileirão, após passar 15 das 38 rodadas no Z-4, o time acabou goleado pelo arquirrival Cruzeiro por 6 a 1, no último jogo da competição daquele ano - a derrota mais doída na história dos clássicos para o torcedor atleticano. De quebra, o resultado evitou a queda do rival, que em caso de derrota teria sido rebaixado pela primeira vez na história. O resultado daquele jogo rende piadas e provocações até hoje, além de, à época, ter deixado alguns jogadores marcados, com a suspeita de corpo mole. Mas talvez nenhum torcedor alvinegro imaginasse que aquele momento significaria também um recomeço na história alvinegra, da qual Ronaldinho Gaúcho faria parte desta história.
 
Como consequência daquele resultado, os jogadores foram hostilizados pela torcida na reapresentação, em 9 de janeiro de 2012, mostrando que a ferida ainda estava aberta. Os próprios atletas e a direção, na época, reconheceram a dívida com o torcedor, que nem mesmo o título estadual daquele ano foi capaz de aplacar.
 
Era preciso algo mais, algo diferente, algo que o torcedor não estava acostumado, algo que amenizasse a dor que tem cura. E esse algo se materializou antes da terceira rodada do Brasileirão. Foi no dia 4 de junho de 2012, com a chegada surpresa de Ronaldinho Gaúcho à Cidade do Galo. Contra o Bahia, dois dias depois, ele foi apenas um torcedor no Independência, já que não tinha o nome publicado no BID, e viu o time apenas empatar por 1 a 1 pelo Campeonato Brasileiro.

Ronaldinho Gaúcho no treino do Atlético-MG (Foto: Fernando Martins / Globoesporte.com)

Três dias depois foi para valer. E, mesmo que de forma tímida, o então R49 - em homenagem ao ano de nascimento da mãe - entrou em campo pela primeira vez com a camisa do Galo. Dali em diante, o alvinegro mineiro não seria mais o mesmo. Com o meia querendo provar para o Brasil e para o mundo que não estava acabado para o futebol, após saída conturbada do Flamengo, participou como protagonista da bela campanha do time no Brasileirão, que culminou com o vice-campeonato.
 
Se em campo R10 já havia comprovado do que era capaz, foi a partir da disputa da Libertadores do ano seguinte que mostrou o que representava fora dele, nas viagens pelos países da América. Foi assim na Argentina, na Bolívia onde recebeu homenagens por duas vezes e também no México, onde arrastou uma multidão para um treino.

Como se não bastasse a expansão estratosférica da marca do clube em nível internacional, Ronaldinho continuou a reger a equipe dentro de campo em boa parte da campanha que culminou com o título mais importante da história do Atlético-MG: a Libertadores. As vendas de camisas cresceram tanto que a empresa que fornecia o material esportivo na época não conseguia suprir as demandas do mercado. Como resultado veio o anúncio da ruptura do contrato com um ano de antecedência.

Jô e Ronaldinho Gaúcho Atlético-MG festa título Libertadores (Foto: Bruno Cantini / Site Oficial do Atlético-MG)


Queda de rendimento

Se o título veio para consagrar Ronaldinho Gaúcho, serviu também para maquiar um pouco as atuações abaixo do que vinha apresentado no início da passagem pelo clube e nas fases iniciais da Libertadores. No Brasileiro daquele ano, com a velha desculpa dos times brasileiros campeões da Libertadores de que o foco seria o Mundial dali em diante, a equipe fez campanha apenas regular - assim como R10 - e terminou na oitava posição.

Para piorar, Ronaldinho ainda teve uma grave lesão muscular, que por pouco não o tirou do Mundial de Clubes. Porém, o jogador mostrou dedicação, força de vontade e foco para se recuperar clinicamente antes do prazo previsto. Mas, na competição mais importante que o Atlético-MG havia participado em sua história mais que centenária, o craque e toda a equipe já não eram mais os mesmos. E o Galo acabou derrotado pelo marroquino Raja Casablanca nas semifinais.

 Mesmo com o fiasco do time e com a nítida queda de rendimento do camisa 10, sondagens e especulações sobre o futuro dele duraram até o início de janeiro, quando o Atlético-MG oficializou a renovação por mais uma temporada. Mas, em 2014, já sem Cuca, R10 não foi nem sombra do ídolo que se tornou no primeiro ano de sua passagem pelo Galo. 

Além da exposição exagerada no carnaval de Salvador, onde montou até um camarote próprio e cantou no trio elétrico (veja no vídeo acima), ele apareceu em clipes musicais onde o futebol não figurava nem em segundo plano. Em campo, sob o comando de Paulo Autuori, o jogador sucumbiu na Libertadores junto com a equipe, numa campanha que nem de longe lembrou a do ano anterior. Mesmo com o futebol já em baixa, R10 continuou a causar histeria por onde passou, seja em Barinas, no interior da Venezuela, em Ciudad del Este, onde fez até um cruzeirense torcer para o Galo e por fim na Colômbia, último local visitado pela delegação antes da eliminação.

O último ato da projeção mundial do jogador e que trouxe frutos para o clube foi a excursão para a China ocorrida durante a Copa do Mundo. Foram três amistosos contra equipes locais, mas no contrato havia uma cláusula: o valor total da bolsa por cada jogo só seria pago se Ronaldinho ficasse em campo pelo menos 55 minutos de cada partida, caso contrário, a redução seria de 50%.

Na volta ao Brasil, R10 não participou de nenhum jogo do Brasileiro e entrou em campo somente nas duas partidas válidas pela Recopa Sul-Americana. Dentro de campo atuações ruins, nenhum gol, mas o terceiro título conquistado em dois anos de clube. Uma despedida nítida, mas até então extraoficial, que se confirmaria na última segunda. Desde então, milhares de torcedores do Galo pelo país e pelo mundo mostram a gratidão pela mudança de patamar provocada por um ídolo mundial em apenas dois anos, num clube centenário de Minas Gerais.

Ronaldinho Gaúcho Atlético-MG (Foto: Reuters)

A quarta-feira será o dia do último ato de Ronaldinho pelo Atlético-MG. Em entrevista durante a tarde, na Cidade do Galo, o jogador concederá as últimas palavras como jogador alvinegro, já que rescindirá contrato. O futuro do meia, duas vezes melhor do mundo pela Fifa, não está definido, segundo seu irmão e empresário, Roberto Assis.

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